SEXTINA É um poema de forma fixa inventado no século XII,provavelmente pelo trovador Arnaut Daniel. A sextina éum espécime típico do know-how poético da Provença. A forma da sextina se caracteriza por uma “magreza” de expressão no que respeita aos recursos disponíveis aopoeta. A extrema limitação de meios e a estrutura recorrente, criam uma série de desafios a imaginação do poeta.
Vejamos: a sextina ortodoxa dispõe-se em seis estâncias de seis versos (aqui experimentamos apenas três estrofes, por isso a "meia sextina" do título) e um terceto final, espécie de envoi. Os versos terminam não em rimas propriamente ditas, mas em palavras-rima que obedecem a uma distribuição padronizada: a última palavra-rima de cada estância se repete no final do primeiro verso da estância seguinte. As palavras derradeiras dosversos da primeira estância recorrem, noutra ordem, sempre no fim das demais estâncias.
1
Quando a morte tocar a vida
Fará deslocar a pedra
E mudará o rumo do jogo
Do corpo inerte, coberto de musgo
Sobrará arrependimento
E buscará o caminho do mar
Quando a noite mergulhar no mar
E não encontrar nem vida,
Nem corpo, nem musgo,
Mudará o revés do jogo
Destruirá de vez com a pedra
Dogmática do arrependimento
E sem mais arrependimento
Libertará a alma da pedra
Mudará o resto do jogo
Livrando-a também de todo o musgo
Aí sim, alcançará a vida
Quando o dia mergulhar no mar
(Sinara Marques)
________________________
2
volta e meia revôlta vida
caminho marcado a pedra
troca, veia e jogo
verde, terra e musgo
as costas vincadas do arrependimento
funduras azuis de mar
nas azuis funduras do mar
como sói acontecer na vida
às vezes se encontra o musgo
colado aos dados do jogo
outras vezes se acha só pedra
ou frágil taça breve de arrependimento
se sorvo o quanto do arrependimento
rolando na vida feito pedra
sorte e azar figuram no jogo
me esparramar aprendo, feito musgo
escorrendo pelos caminhos da vida
vai e vem, ondas do mar
(Deisi Beier)
____________________________
3
É tarefa de toda uma vida
Sermos em tudo diferente da pedra
Mais do que a consciência o desejo conduz o jogo
Resvalando na sua escorregadia fluidez de musgo.
Estamos a todo o momento refém do arrependimento
Prestes a ser engolido pelo mar.
Cambiante e fluida a imagem do mar
Trágica e épica como a Vida
Ora sombrio e traiçoeiro como musgo
Ora, como parte de um indecifrável jogo,
Som e fúria de suas ondas no ar e na pedra
Fonte de dores, amores e arrependimento.
Libertar-se das cadeias do arrependimento
Sair da posição catatônica de pedra
Não é tudo, mas é parte importante do jogo.
Tropeçar na pedra drumondiana, resvalar no musgo
E levantar para continuar a trajetória de uma vida
Que os poetas procuram, bem ou mal, emoldurar com a imagética do mar.
(Jorge Alberto Benitz)
___________________________
4
pensamentos cheios de vida
um caminho uma pedra
brinca o tempo suave jogo
brisa calma de verde musgo
arrepio pende sem arrependi mento
mergulho inteiro eu só o mar
tranqüilo inquieto lambe o mar
te observa a vida
estende a mão sobre o lado musgo
doce menino não conhece o jogo
fria pedra arre pendi mento
sem nenhum arrependimento
rola o tempo rola a pedra
viciou-se sentir musgo
renasce quase morta a vida
reflete puro o mar
(Jackeline Gay)
__________________________
5
Na descoberta da vida
Sigo o destino da pedra
Desafio num jogo
Onde o musgo
Do tempo do arrependimento
Foi sepultado no mar
Navego por este mar
Que me devolve à vida
Tento extrair a tempo o musgo
Com passos seguros como num jogo
Para não escorregar na pedra
Obscura do arrependimento
Chega um tempo sem arrependimento
Talhado na pedra
Teu nome faz parte do jogo
A rolar soltando o musgo
Temporário da vida
No fundo do mar.
(Ângela Warlet)
Um comentário:
Oi Jussara,fico muito feliz com teu comentário,é um grande estímulo.Valeu!Beijos.
Postar um comentário